24 fevereiro 2011

Turismo em Crise na Terceira

A ilha Terceira foi a única do arquipélago a perder camas no último ano, passando de 1.603 (quase 20% do total regional) para 1.316 (cerca de 16,3% do total). Ao contrário da tendência do arquipélago, que registou até Novembro uma ligeira subida no número de dormidas, de cerca de 3,3%, na Terceira verificou-se uma redução de 6,8% (menos cerca de 9 mil dormidas). E em 2010, a percentagem de dormidas na Terceira foi de apenas 12,6% do total regional, o que está abaixo da sua percentagem de camas.

Mas existe um número “escondido” que pode ser o pior de tudo: o alegado turismo na Terceira é composto por 74% de portugueses, enquanto que a média regional é de 48%. Qual é o perigo desse número? É que ele encerra um turismo que não é propriamente turismo – é sobretudo composto por profissionais do continente que visitam a ilha em trabalho. A baixíssima média de dormidas não esconde o problema: apenas 2,3 noites por português (a média regional é igualmente de 2,4%, claramente fruto da inflação do “turismo trabalhador”). Bem mais grave é o que se passa com os estrangeiros, que revelam uma média de apenas 2,8 noites por hóspede (quando a média regional é de 3,9, mesmo com a descida verificada no espaço de um ano). Mas talvez mais preocupante ainda o resultado de uma reunião que aconteceu ontem entre empresários do sector e o Governo. Mantida ao abrigo da comunicação social, o seu resultado deixou diversos operadores boquiabertos.

A primeira reacção pública de Vasco Cordeiro, através da Antena 1 foi que “não é a questão do destino turístico “Terceira”, é sobretudo o produto; e quanto mais nós conseguirmos identificar determinados produtos com a ilha, com esse destino, mais fácil se tornará essa comercialização, ou essa promoção; há a necessidade de reforçarmos a identificação destes produtos como estando presentes na ilha Terceira; e isso facilitará também a forma como podemos vender”.

Depois, as declarações de Sandro Paim, presidente da Câmara de Comércio da Terceira (e por inerência dos Açores), ele próprio um empresário ligado ao sector: “A Terceira terá necessidade de desenvolver um trabalho forte a esse nível; a Associação do Turismo dos Açores, a Câmara do Comércio, terão de fazer um esforço para consertar esforços, para produtos como a cidade património, a vertente subaquática arqueológica, aspectos mais virados para a indústria cultural; acreditamos que a Terceira tem um potencial a este nível”.

E um pouco mais tarde, através do GACS, a visão do Governo desses “produtos” era ainda mais restrita, senão contraditória, anunciando “um conjunto de iniciativas destinadas a estimular o sector do turismo na ilha Terceira e a aumentar o fluxo de turistas para aquela ilha”, que segundo Vasco Cordeiro quase se resume ao do Golfe: “eventos que o ano passado não se realizaram nesta ilha, mas que se vão realizar este ano, nomeadamente a realização de algumas competições relacionadas com esta modalidade”.

Outra ideia: “na área dos desportos náuticos a intenção do Governo é a de criar condições para que este possa ser também um produto turístico mais associado à ilha Terceira, estando prevista a realização, em 2011, de duas competições, uma delas internacional, em bodyboard, e que serão apoiadas exactamente com o objectivo de reforçar a componente deste produto”.

E a declaração final que “o Secretário Regional da Economia está convicto de que com este conjunto de acções será possível ultrapassar os desafios com que nos confrontamos, no sentido de conseguir uma maior captação de fluxos turísticos para a ilha Terceira, por exemplo, através de uma maior rentabilização das ligações directas com Madrid e Amesterdão, bem como através de uma aposta nas ligações com o continente português de forma que permita captar, por exemplo, o mercado do norte de Espanha”.

Por outras palavras, a crise do turismo na Terceira parece ainda nem ter chegado à fase do prognóstico...

FONTE: Diário dos Açores

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