06 dezembro 2010

Os desafios do Turismo até 2015

Nos próximos cinco anos, a Internet, redes sociais e os mercados emergentes vão alterar as forças do turismo mundial. China e Índia vão triplicar o seu peso, enquanto a Internet terá um impacto "brutal" sobre empresas e preferências do consumidor.

O sector do turismo vive actualmente sob diversos paradoxos. Apesar da maior crise económica das últimas décadas, o crescimento de turistas em todo o mundo não pára de crescer a taxas de quase dois dígitos. Simultaneamente, as empresas do sector - das companhias aéreas, aos hotéis, às agências de viagens - esmagam margens operacionais, reportam dificuldades financeiras e avançam para projectos de consolidação para evitarem a falência. Fala-se do turista mais independente e do fim dos intermediários, como as agências de viagens, mas, por outro lado, assiste-se à criação de impérios, como as agências de turismo online ou os sites agregadores de reservas de voos e hotéis.

Os paradoxos actuais do turismo são oriundos da profunda e rápida transformação que os seus agentes estão a sofrer. Nos últimos dez anos, o sector assistiu a eventos que alteraram quase por completo a forma como se faz negócio ou se estabelece a  ligação com clientes. A lista é imensa: o 11 de Setembro, os desastres naturais, pandemias, surgimento das companhias aéreas low cost, a explosão da Internet e das redes sociais, o preço como factor determinante, forte movimento de concentração no sector, as agências e serviços online, a escalada dos preços do petróleo e restantes commodities e a maior crise económica e financeira das últimas seis décadas. Numa década, o perfil de cliente - seja ele de lazer ou profissional - ou as redes de distribuição, sofreram uma mutação sem precedentes.  

O sector acredita que a fase actual é de transição. De transição para um turismo mais global e mais digital. O online irá determinar todo o modelo de negócio e países emergentes irão tornar-se na principal fonte de crescimento mundial de turistas, especialmente China e Índia, segundo um estudo sobre o futuro das agências de viagem apresentado no XXXVI congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT) que decorreu esta semana na Madeira.


Hoje existem 1,5 mil milhões de utilizadores de Internet em todo o mundo e estima-se que este número cresça 50% até 2015, dados que irão obrigar todos os operadores a apostar fortemente no segmento online. Mas não só. O documento alerta para o facto de, em 2020, a geração que nasceu na era digital entra no mercado de trabalho, pelo que a alteração dos padrões de consumo e comportamento "será brutal".


A aproximação dos clientes em diversos canais e o aproveitamento das redes sociais são algumas das recomendações deixadas. As redes sociais, por exemplo, poderão ser ferramentas poderosas para capitalizar a marca, personalizar a ligação ao clientes, rentabilizar os conteúdos e ter um acesso mais directo e real ao feedback dos seus consumidores. No inquérito feito às empresas portuguesas do sector das agências de viagens integrado no estudo da APAVT, quase dois terços delas (63%) admitiu que irá aumentar a oferta de produtos online nos próximos anos, enquanto 44% referiu que irá usar as redes sociais para publicitar a sua companhia. O desenvolvimento da tecnologia irá determinar o surgimento de novos canais. "É obrigatório agarrar o mundo online", adiantou Orlando Carrasco da consultora ICIberia, que desenvolveu o estudo para a APAVT. "As empresas têm de assegurar que têm os seus produtos e marca nos múltiplos canais", acrescentou o responsável durante a apresentação deste. A TAP, por exemplo, realizou, no final do ano passado, um evento de "flash mob" - manifestação espontânea - no aeroporto da Portela, em que o investimento de apenas 100 euros gerou 1,7 milhões de visualizações na Internet através das diversas redes sociais, sendo noticiado em diversos países e permitindo um aumento de notoriedade da marca.


 Mas além da onda digital, outro factor irá mexer no xadrez turístico. A China e Índia - e, numa fase mais avançada, os restantes emergentes, como o Brasil - irão obrigar a um realinhamento do turismo mundial. Nos próximos cinco anos, estes dois países com uma população conjunta superior a 2 mil milhões de habitantes, vão triplicar o seu peso na emissão de turistas e estima-se que possam representar metade da população mundial nos próximos vinte anos.


Segundo dados da World Travel & Tourism Council, a emissão de turistas e viajantes de negócios chineses vai aumentar mais de 70% até 2015, enquanto os indianos irão crescer mais de 50% no mesmo período. Estas taxas contrastam com subidas de 20% em mercados como o norte-americano, japonês e o inglês. Mais do que as suas performances económicas - a China irá expandir-se 7,25% ao ano nas duas próximas décadas contra 2,5% dos EUA -, estes dois países irão ser uma fonte valiosa de novos turistas, sobretudo da classe média. Estes clientes, porém, serão fortemente sensíveis ao preço, qualidade da informação dos destinos e qualidade do serviço, alerta o estudo. Estes novos players emergentes irão igualmente sustentar o crescimento global das viagens de negócios. Enquanto a expansão deste segmento irá crescer a um ritmo anual de 0,3% nos EUA, na China, o crescimento será de 6,5%. Um dos exemplos da força dos emergentes no turismo mundial foi a recente Expo de Xangai realizada este ano e que contou com 60 milhões de visitantes, o que tornará a China num dos maiores destinos turísticos mundiais este ano.


Alem da revolução digital e da entrada dos emergentes no turismo mundial, o estudo aponta que nos próximos cinco anos, o turismo de negócios irá crescer fruto da retoma global, mas a classe executiva - uma das principais fontes de rendimento das companhias aéreas - deverá sofrer alguma retracção, devido às novas políticas de racionalização de custos no pós-crise. As questões ambientais estarão muito mais presentes na mente dos clientes, que irão procurar novos produtos como o turismo do real, da aventura, da paixão e das experiências. O sector deverá ainda continuar a introduzir pacotes de apoio ao turismo devido à sua capacidade geradora de emprego, enquanto os factores como a segurança, alterações climáticas e pandemias deverão ter um efeito negativo. 


Numa época de forte crise económica nos principais mercados desenvolvidos, o turismo vai manter uma evolução mais positiva que outros sectores. Segundo os últimos dados da Organização Mundial do Turismo, o sector cresceu 7% no primeiro semestre deste ano face ao período homólogo de 2009 com um aumento de 40 milhões de turistas, uma perfomance mais de duas vezes superior à da economia global (cerca de 3%) e deverá abrandar ligeiramente em 2011 para uma expansão de 4%.

Perfil do cliente
Nunca o sector das agências de viagens se viu confrontada com uma alteração tão profunda no perfil dos seus clientes, sejam eles turistas ou profissionais, como a verificada na última década. Nas viagens de lazer, a tendência é o "cheaper, shorter, later". O turista procura o essencial, quer ser independente e tenta fugir ao imprevisto: compara preços, analisa opiniões de outros viajantes, estuda a meteorologia, horários dos transportes. As reservas são igualmente feitas cada vez mais tardiamente. A Amadeus, empresa de distribuição de reservas, denomina o novo cliente de lazer como "austere traveller". No cliente de negócios, a principal alteração é a sua crescente sensibilidade ao preço.

Os efeitos das crise económica obrigou as empresas a tornarem-se mais racionais em toda a sua esfera, viagens incluídas. De acordo com o estudo, as multinacionais estão a centralizar as suas reuniões em hubs regionais, em vez de distribuirem os seus executivos por localizações mais provinciais. Cidades como Londres, Paris, Nova Iorque ou Hong Kong serão alguns dos destinos preferenciais. As decisões sobre a política de viagem estão também a ser tomadas ao um nível superior na hierarquia.

A tendência é agora "cheaper, shorter, fewer". Ao cliente, serão, cada vez, mais oferecidos serviços de assessoria e consultadoria.
Estudo: metodologia
O estudo "As Agências de Viagem e o Futuro" foi desenvolvido pela consultora ICIberia e encomendado pela Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT) para traçar o perfil das agências do sector e as tendências de futuro. Os inquéritos e entrevistas foram realizados a 54 empresas do sector das agências de viagens responsáveis por 1144 balcões e que representam 63,4% do mercado.

No estudo, foram ainda entrevistadas 21 entidades entre clientes e fornecedores que habitualmente trabalham com as agências de viagens.
 
Perfil da agência vencedora
  • Produtos com o conceito "Value for Time and Money":
  • Soluções personalizadas (desporto, radical, praia, natureza, caminhadas...) antes, durante e após a viagem;
  • Oferta diferente - inovadora, sofisticada, autêntica, que proporcione novas experiências;
  • Rapidez, eficiência, consultoria, segurança;
  • Marca e promoção fortes;
  • Fidelizar o cliente, trazendo novos clientes;
  • Forte investimento em tecnologia, sistema de informação e recursos humanos.
  • As agências terão de passar de simples revendedoras para consultoras com o serviço a ser feito via especialização, e não via preço.
 Portugal: Metade das agências de viagens aumenta vendas em 2010
O crescimento das vendas este ano será feito à custa do esmagamento das margens e a escassez de recursos humanos continua a ser o maior constrangimento ao crescimento,
refere um estudo da associação do sector. Metade das agências diz desconhecer os apoios do governo.
Metade das agências de viagens portuguesas vão aumentar as vendas este ano apesar da quebra na margem bruta  (diferença entre o valor das vendas e custos variáveis de produção), enquanto o sector refere que o maior constrangimento à actividade continua a ser encontrar recursos humanos qualificados, segundo um estudo da ICIberia encomendado pela Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT).


O sector turístico nacional continua a dar sinais mistos em 2010. O ano que poderá ser o melhor de sempre em receitas turísticas em Portugal e de vendas para a TAP, por exemplo, será também de contracção no volume de negócios para 38% das agências de viagens, refere o documento.


O abrandamento da economia nos últimos dois anos tem sido o principal factor de travagem do sector das agências de viagens, refere Vítor Sevilhano, um dos responsáveis do projecto. Este adiantou que 2011 será um ano de estagnação devido aos efeitos dos programas de austeridade em muitos dos mercados emissores para Portugal e a menor capacidade financeira das famílias portuguesas. Só em 2012 se espera um regresso ao crescimento, enquanto os prejuízos dos exercícios de 2009 e 2010 não "serão recuperáveis", sublinhou.


Ainda assim, Portugal poderá ter uma performance positiva nos próximos anos, dado o seu potencial como destino turístico e se for feito um reforço de campanhas externas e na adequação da qualidade/preço, afirmou Sevilhano.


O estudo destinado a traçar o perfil das agências de viagens em Portugal concluiu que o sector está a beneficiar do surgimentos de novos canais de venda, como a Internet, na crescente informatização e na opção dos clientes de fazer férias mais vezes e por períodos mais curtos, uma tendência que tem sustentado o negócio.


A subida das vendas em 2010 tem sido feita à custa do esmagamento das margens, ficando por esclarecer qual o efeito final sobre os lucros das companhias. Para este ano, 69% dos inquiridos no estudo da APAVT esperam uma quebra na margem bruta, contra 31% dos que estimam uma melhoria. Estes dados contrastam com os registados em 2008, quando mais de metade (58%) reportou um crescimento da margem bruta.


As agências continuam a apontar a escassez de recursos humanos qualificados como um dos principais constrangimentos ao seu negócio e salientam que, devido à crise, as negociações com as linhas aéreas e outros fornecedores se tornaram igualmente mais difíceis. Ao nível dos canais de distribuição, 88% dos inquiridos refere que vai utilizar a Internet nos próximos três anos, uma forte subida face aos 23% registados na edição do estudo em 2008.


Segundo o estudo, 81% das agências de viagens no mercado nacional têm capital 100% português (92% em 2008), enquanto o capital social de 75% do total dos participantes é inferior a 500 milhões de euros. Cerca de metade das empresas do sector detém menos de dez trabalhadores e apenas 6% tem mais de 500 funcionários. A consolidação entre players do mercado é feita sobretudo para ganhar dimensão e para aumentar o poder negocial com os fornecedores, afirmaram as inquiridas.
Um dos dados curiosos do estudo é o facto de apenas 56% das empresas conhecerem os apoios estatais ao sector e de apenas 25% já terem beneficiado de incentivos financeiros. Ao nível dos incentivos fiscais, apenas 6% dos inquiridos diz ter usufruído destes. Sol e praia continuam a ser o produto turístico com maior potencial em Portugal, segundo 69% dos inquiridos, seguido dos city breaks (56%) e turismo cultural (50%). O golfe, produto amplamente promovido pelos diversos governos nos últimos anos, é considerado pelo sector como um produto de potencial médio, ocupando a nona posição num ranking de dez.


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