10 abril 2010

Roteiro Turistico: Montalegre

Fica paredes-meias com Espanha e escapa ao restante Portugal por caminhos longos e característicos

Fica paredes-meias com Espanha e escapa ao restante Portugal por caminhos longos e característicos. A interioridade que uns proclamam como justificativo para a estagnação, nunca foi palavra de ordem por estas terras. Construída a pulso, refugia-se nas suas tradições para cativar visitas, promover as suas gentes e costumes. Por estas terras, não há quem não se orgulhe do passado e não pense no futuro. Dos rituais de sexta-feira 13, aos monumentos, às chegas de bois, aos certames do fumeiro e à velocidade, tudo é motivo para se “perderem” milhares de visitantes, todos os anos, em Montalegre.

Pode ser uma viagem desgastante para uns, mas certamente deslumbrante, que faz esquecer enjoos, mal-estares, indisposições. Ao longo da quase uma centena de quilómetros que separam a acolhedora vila de Montalegre da capital de distrito, Vila Real, podem contemplar-se belas paisagens, ora em planície, ora em declives. A estrada, essa, convida a pouco mais de hora e meia ao volante, onde o traçado de alcatrão se define, ora em longas rectas com declives, ora em curvas traiçoeiras e perigosas. O rio passa mesmo ao lado da via principal de entrada na vila montalegrense, quando, num piscar de olhos, damos de cara com dois bois em bronze, numa representação da tão tradicional chegas de bois. Estão dadas as boas vindas à boa maneira barrosã. A envolvente paisagística promete uma visita repleta de esconderijos e recantos para descobrir, de uma beleza incomensurável. E assim foi. O Mensageiro percorreu as acolhedoras ruelas, subiu por entre casas perfilhadas e restauradas para bom turista contemplar e visitou os monumentos mais emblemáticos do concelho montalegrense. Da cultura, à gastronomia de sabor inigualável, em Montalegre encontra-se ainda tempo e espaço para o desporto motorizado que atrai muitos “galegos” e para chamar os “do além” a cada sexta-feira 13.
História de um povo

Data de 1273 a denominação de Montalegre como vila, com uma carta de foral concedida por D. Afonso III, seguindo-se em séculos de confirmação por outros reis. Uma terra com história. Recuando quase quatro mil anos, podemos contemplar as construções da Antas da Mourela e da Veiga e as Cistas da Vila Ponte, monumentos erguidos por antepassados, cujo respeito e desconhecimento do que existia para lá da morte, os fez edificar tamanhas protecções. Pelo território da Terra Fria, como é comummente designado, Montalegre também foi caminho trilhado por Celtas, consubstanciado pelos vários castros espalhados pelo concelho, e Romanos, que construíram um conjunto vasto de pontes, como forma de unir as pessoas separadas por um rio ou por falta de um pedaço de terra. Com o passar dos tempos, e dada a proximidade com as terras de “nuestros hermanos”, mais concretamente, o reino da Galiza, foram edificados na linha de fronteira os castelos de Gerês, Piconha, Portelo e de Montalegre. As suas gentes sentir-se-iam, certamente, mais protegidas dos perigos que teimavam em pairar na “terra da alegria”, como se lê na Marcha de Montalegre, da autoria do Padre Ângelo Minhava. O Castelo de Montalegre é visível lá longe. Situa-se numa imponente e estratégica localização, como se hoje tivesse ainda como missão proteger a comunidade dos ataques ou ambições desmesuradas dos vizinhos espanhóis, sentimentos temidos outrora de valentia portuguesa. Do seu interior, avista-se uma paisagem de cortar a respiração. A vila de Montalegre e, bem lá longe, paisagens únicas com contornos que a magia do tempo manteve intocáveis.
Uma terra de “evolução”

Entre a procura de novos monumentos e a contemplação da paisagem, o Mensageiro ouviu a opinião daqueles que, mais do que ninguém, falam do que conhecem: os habitantes. Susana Duarte, de Aldeia Nova, afirmou que o concelho “tem sofrido um desenvolvimento crescente” e, por isso, é “bom para viver”. Para Helena Carvalho, de Montalegre, a evolução é clara. “Sou de Valpaços e vivo aqui há 30 anos. Quando cheguei, isto não era um terço do que é agora”, assegurou a moradora. De todas as tradições existentes num concelho tão sui generis, Helena Carvalho recordou as chegas de bois. “No verão é uma loucura”, afincou, não esquecendo as sextas-feiras 13 e a Feira do Fumeiro. Da freguesia de Salto provém João Barroso, com um espírito de “verdadeiro barrosão”. “Já estive em grandes países e com bom clima e troquei isso para vir viver para cá. Se uma pessoa tiver boas condições, se tiver uma boa casa, acho que é um bom sítio para viver”, referiu. E a juntar a estas maravilhas, o habitante montalegrense apontou as melhorias infra-estruturais que se têm vindo a implementar. “Não há um troço de estrada sem alcatrão, há saneamento, há água potável em todo o lado e temos boas escolas. Quem não conhece, por vezes pensa que isto é o fim do mundo, mas isto é um sítio espectacular.”
Gastronomia de se lhe tirar o chapéu

A Feira do Fumeiro e Presunto do Barroso é já um certame imperdível por milhares de visitantes nacionais e internacionais. As iguarias da região barrosã são um chamariz que, além de contribuir para a promoção e venda dos produtos gastronómicos, tem um papel de relevo no desenvolvimento económico da vila. “Este evento é um cartaz da região, traz gente de dentro e de fora da feira”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal, Fernando Rodrigues, avançando que este sector é um factor de “grande rentabilidade”. Com uma crescente evolução, esta mostra tem, na opinião do autarca, “todas as condições para continuar a criar emprego e riqueza na vila”. Da Posta à Barrosã ao churrasco de vitela, do cabrito assado no forno até ao cozido à Barrosã, do pão centeio a acompanhar as alheiras e chouriças, das ervas medicinais aos licores, muitos são os petiscos e iguarias que ninguém quer perder quando pisa chão montalegrense. Doces, salgados ou pratos tradicionais da região. Tudo é mote para visitar o “coração do planalto barrosão”.
Vila de cultura, desporto e tradições

“Esta terra é extraordinária.” Assim é classificada pelo autarca que pretende “criar um roteiro turístico e cultural” da vila montalegrense. Para isso, continuam em curso vários projectos que visam “atrair” cada vez mais visitantes. O Ecomuseu do Barroso é uma das recentes apostas para “organizar todos os sectores da História, da cultura e do património”, tornando-se assim numa “via de desenvolvimento local”, onde a história mais antiga é contada pelas tecnologias “do futuro”. “Queremos ter uma economia diversificada numa região que tem muitas dificuldades”, frisou Fernando Rodrigues, alertando que é urgente reunir condições para que as “pessoas deixem de fugir para as grandes cidades e para o estrangeiro”. Aqui, tem sido “recuperado o património e preservadas as aldeias”, para que sejam um “recurso turístico”. Os investimentos públicos empreendidos na vila, desde o saneamento, as acessibilidades e a requalificação de infra-estruturas, pretendem constituir-se como uma “alavanca para o investimento privado e para a actividade económica”. Exemplo é o pavilhão multiusos, um espaço capaz de albergar feiras gastronómicas e iniciativas culturais. “Montalegre é uma paixão, é um concelho cada vez mais atractivo e visitado, porque tem uma cultura e identidade fortes. É um território único no País, onde há eventos culturais como não há em mais lado nenhum”, salientou Fernando Rodrigues. Evento mais cultural e reconhecido da terra barrosã é a sexta-feira 13 que, ano após ano, continua a ser um “atractivo para trazer gente e para sobrelotar os sectores que vivem do turismo”. E não afecta apenas a economia local, também os concelhos vizinhos de Boticas, Chaves e as cidades espanholas vêem a sua hotelaria “disparar na procura”. Também de Turismo Rural podem os turistas usufruir, na calmia da Natureza. Entre as várias ofertas disponíveis para passar momentos relaxantes, sublinhe-se a do Padre António Fontes. O Hotel Rural Senhora dos Remédios, em Mourilhe, é um empreendimento que resultou da requalificação de uma antiga casa, recheada de lendas e tradições. É este o resultado de quando o calendário, por capricho da pouca sorte de uns, para contentamento de outros mais, faz coincidir o dia treze com uma sexta-feira. Soltam-se bruxas e bruxedos, esconjura-se o mal em Montalegre. Da falta de estruturas para a prática desportiva não se podem os habitantes queixar, nem tão-pouco de adrenalina. Montalegre é palco de corridas de Ralycross, pois a pista automóvel de que dispõe tem atraído muitos adeptos e pilotos da modalidade. As provas internacionais de da modalidade são o atractivo europeu e nacional, mas são os camiões que mais enchente provocam quando se fala em corridas. De França, veio o Camião Cross, um evento de “mega” corridas, que mistura a perícia ao volante e o controlo de uma máquina gigante. Como foram os franceses descobrir este traçado? Muitos já perguntaram e a resposta está na “lucidez com que se fazem os projectos”, responde o município. Também como desporto, tratam-se os bois barrosões. Os mesmos que, principalmentfonte:e no verão, saem à rua para ser a atracção principal. Quando dois pares de cornos se encontram, é “chaga quase pela certa” e vibram com isso milhares de aficionados. De outros tempos dizem os defensores dos animais, costumes, tradições ou tributo ao poder dos animais respondem os que nela participam. A equipa local de futebol a militar na III Divisão é também orgulho da vila, pois é uma das duas equipas do distrito, a par com o Chaves, que se encontra em campeonatos nacionais. Acrescem as piscinas municipais e o parque de campismo, locais que os montalegrenses apregoam, por um lado, para os turistas darem umas braçadas refrescantes e, por outro, como abrigo a quem quiser trilhar caminhos e admirar as tão belas paisagens do concelho. Se este é o fim do mundo, então a rota está traçada. É tempo de se fazer as malas e seguir caminho...


Fonte: Mensageiro Noticias

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