01 abril 2010

Projecto de restauro da Via-Sacra do Buçaco até final do ano

Património está em mau estado de conservação e exige uma proposta de intervenção global, antes da entrada no terreno.

Encontraram-se os parceiros – a Fundação Ricardo Espírito Santo Silva e a Universidade de Aveiro – e dão-se agora os primeiros passos na apresentação de uma proposta de intervenção na Via-Sacra do Buçaco. O património pertence ao Estado, mas é a Fundação Mata do Buçaco que o está a gerir. E espera que até final de 2010 os projectos estejam «realizados e candidatados». Esta é, pelo menos, a expectativa do presidente da Fundação, que ontem promoveu uma conferência onde a famosa Via-Sacra foi tema de análise. A conservação e restauro de toda a Via-Sacra «é um desafio que queremos que rapidamente se concretize», manifestou, à margem do encontro, António Jorge Franco.



A tarefa não será fácil. «Todo o património está em mau estado de conservação», afirmou Nazaré Tojal, do Instituto de Conservação e Restauro da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, que ontem apresentou possíveis soluções para a Via-Sacra do Buçaco. Segundo a especialista, uma primeira abordagem ao conjunto arquitectónico religioso da Mata do Buçaco permitiu constatar a degradação dos materiais, designadamente telhas arrancadas, árvores tombadas para cima das estruturas, infiltrações e acima de tudo, «vandalismo», já que, constatou, o ser humano «é o que mais estraga, muitas vezes sem saber porquê».

“Desafio interessante”
São 20 capelas, sete alegóricas à Prisão de Cristo e as restantes sobre a Paixão de Cristo sobre as quais a Fundação pretende desenvolver um trabalho de conservação e restauro. Nazaré Tojal sublinha a necessidade de um diagnóstico e identificação das patologias das peças para perceber quais as intervenções a que já foram sujeitas e quais as que vão ter de ser realizadas. Tudo tem de ser pensado, alerta, numa perspectiva «global», criando uma metodologia de intervenção que contemple todos os espaços. «A intervenção terá se ser compatível com todos os materiais, ter em conta o seu interior e que é um espaço sagrado», explicou a especialista, considerando que proteger este património «sem retirar dele o que o torna único» vai ser um «desafio interessante».

Para já, Nazaré Tojal considera como prioritárias algumas intervenções que têm em vista «estancar os factores de degradação», como seja consertar os telhados a céu aberto, retirar as árvores tombadas, entre outros pequenos trabalhos que são «urgentes». Depois proceder a uma intervenção profunda onde a conservação é para fazer «sem dúvida alguma», já o restauro «é mais complexo», exigindo-se saber «o quê e como». Defende, por isso, que antes da entrada no terreno é exigido «um estudo aprofundado para criar uma proposta de intervenção muito bem sustentada do ponto de vista material, histórico…». Em suma, «um projecto integrado que mantenha a sacralidade do espaço».

António Jorge Franco sublinha que a Fundação Mata do Buçaco pretende um resultado que seja «um exemplo em Portugal», daí que a primeira fase tenha sido a de encontrar parceiros à altura, com técnicos especializados na área. O objectivo é «a recuperação deste património», sublinha, desejando que isso seja uma realidade «dentro dos prazos». Quando? «Talvez em 2011 possamos estar com a obra no terreno», anseia.

A conferência de ontem subordinada ao tema da Via-Sacra, esteve integrada na programação da Semana Santa que a Fundação Mata do Buçaco se encontra a promover até 5 de Abril.

Religiosidade pode ser factor
diferenciador no turismo
O conjunto monumental do Buçaco é constituído por duas séries de monumentos arquitectónicos, sendo a primeira erguida entre 1620 e 1700, pela ordem religiosa dos Carmelitas Descalços que construíram o convento e muitas capelas e ermidas. A segunda série, construída em finais do século XIX e início do século XX, inclui o grande hotel e alguns edifícios de menor dimensão. Na verdade, trata-se de um conjunto, acima de tudo religioso, que para a Turismo Centro de Portugal constitui uma marca – a marca Bussaco. Pedro Machado, presidente do organismo, destacou, precisamente isso, ontem, ao falar sobre “A importância da marca “Bussaco” na estratégia nacional”. E considerou que a «religiosidade» pode ser «um factor diferenciador» para o turismo da região. Mais, afirmou mesmo que os “produtos” religiosos, de que é exemplo a Semana Santa que actualmente se vive no Buçaco, pode contribuir para inverter a sazonalidade, promovendo a deslocação de turistas à região Centro fora da época alta que é o Verão.

À parte do turismo religioso, Pedro Machado fez questão de enumerar algumas das vantagens da integração da Junta de Turismo Luso-Buçaco na Turismo Centro de Portugal. É certo que os prós e contras estão ainda em análise, mas nesta altura aponta já vantagens competitivas: «hoje a marca Bussaco é defendida num conjunto grande de uma região» e, para além disso, se a marca dá qualquer coisa a toda a região, também esta tem «a obrigação de retribuir».

Fonte: Diário de Coimbra

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